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Reflexão: O grave problema do abastecimento de água em Condeúba e região que poucos conhecem

Publicado por     |   27 Set 2018
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Apesar de estar situada no Sertão Nordestino, em uma área cujo clima é semi-árido, de poucas chuvas, Condeúba já registrou na sua história períodos bons de chuvas, cheias regulares nos seus rios e uma produção regular na área agropecuária. A plantação de cana de açúcar para a produção de cachaça, açúcar e rapadura, pastos para a produção pecuária dentre outros itens produzidos pela agricultura familiar costumava abastecer o mercado interno nos anos 1950, quando foi construído o primeiro grande açude para abastecer a cidade, o açude do Champrão - e até mesmo servir para abastecer outras cidades da região.

Muito embora a cidade tenha registrado na sua história esse período de clima favorável quando o assunto é chuva, especialmente a partir dos anos 2000 os efeitos das secas prolongadas começaram a mostrar-se cada vez maiores. Com a mudança gradativa no clima da cidade, que segue o mesmo comportamento do clima do sertão nordestino, algumas atividades agrícolas foram inviabilizadas e atualmente já há preocupação com o abastecimento para finalidades elementares para a manutenção da vida como tomar banho, cozinhar e até mesmo para o consumo humano. 

Desde a grave seca que assolou a região de Condeúba no ano de 2013 quando a barragem do champrão chegou em níveis muito baixos, o tema "água" tem sido recorrente nas cidades dessa área geográfica e traz consigo preocupação e tensão. O maior reservatório da região desde 1950 ainda é o Açude do Champrão, com a diferença que passou a abastecer diretamente as cidades de Piripá e Cordeiros. Todos os projetos que já foram apresentados para trazer novos reservatórios ainda são meras promessas políticas, sem nada de concreto. 

O livro Um Século de Secas dos autores Catarina Buriti e Humberto Barbosas, que aborda sobre a seca no sertão aponta que:

"... até 2050, a demanda por água deverá aumentar em 50%. Segundo a UNCCD, até 2025, 1,8 bilhão de pessoas sofrerão com a escassez absoluta de água, enquanto 2/3 do mundo estarão vivendo em condições de estresse hídrico. No ano de 2030, cerca de 2,4 bilhões de pessoas no Planeta podem estar vivendo em áreas sujeitas a períodos de intensa escassez de água, o que pode deslocar uma população de até 700 milhões de cidadãos."

A escassez de água será um dos maiores desafios do século XXI porém, as discussões e políticas públicas acerca do assunto ainda são muito rasas e pouco efetivas. 

No caso específico da região de Condeúba, com mudança gradativa do clima, o que já é previsto por diversos estudos, trazendo secas cada vez mais prolongadas, a primeira medida emergencial que deveria ser tomada é a construção de um açude de maior porte. Dois projetos nessa linha figuram em anos eleitorais: A Barragem dos Morrinhos e a Barragem do São Domingos mas, nada de concreto além de promessas políticas aconteceu. Ambos os projetos tem um custo elevado (mais de 60 milhões de reais) e também um tempo para execução, que deve ser de pelo menos 8 anos. Mesmo levando um tempo considerável até que um açude como esse seja projetado, executado, alagado e então liberado para o uso, os governantes assistem o agravamento do problema do abastecimento de água sem mover uma palha sequer no sentido da solução ou das soluções.

Com a construção de uma barragem de médio porte, como previsto nos dois projetos citados, além de garantir um abastecimento para os municípios da região, seria possível o investimento em plantações irrigadas, o que traria mais vegetação para o bioma local, garantindo mais umidade no clima e também a alimentação do ciclo da água, o que poderia trazer mais chuvas.

Outra medida que requer atenção e é muito pouco discutida é a recuperação dos rios que cortam o município. O desmatamento dos leitos e nascentes, a construção de represas nos leitos dos rios e a poluição prejudicou o curso das águas que desembocam no açude do champrão.

As secas serão cada vez mais severas e não há perspectivas de mudanças para esse processo de ampliação do Sertão Nordestino. É necessário que os governos e sociedade civil se organize para discutir a problemática, trazer soluções efetivas que amenizem essas consequências e também para que seja possível implementar projetos e políticas públicas de modo que garanta o abastecimento antes que os reservatórios sequem e inviabilize até mesmo a vida humana na região.

A problemática requer discussões mais profundas, envolvendo clima, vegetação e até mesmo a questão socio-econômica. Serão necessárias mudanças de hábitos, mudanças no cenário econômico para evitar prejuízos e medidas efetivas dos governos para garantir a vida humana com dignidade nesses municípios que beiram um colapso hídrico. Retardar essas discussões e resumir o problema à racionamentos, retirada de lixos do açude do champrão ou outras atitudes necessárias mas, pouco efetivas, não trará resultado no plano macro, que será de onde poderá vim uma solução de maior abrangência. É preciso fazer o dever de casa mas, não se pode esquecer que o problema é muito maior e requer uma atenção aprofundada.

Portanto, basta uma visita no açude do Champrão, que hoje está no seu volume morto e ainda assim fornecendo em torno de 40 carros pipas por dia e todo o abastecimento via adutoras para os três municípios (Condeúba, Piripá e Cordeiros), para saber que é urgente a demanda por um novo reservatório de maior porte.

Esse texto não foi redigido por um especialista na área entretanto, não necessita se aprofundar muito tecnicamente para entender a complexidade que é o problema do abastecimento em Condeúba e região e também a urgência que se tem para começar a implementar projetos e políticas, tendo em vista que eles só surtirão efeito anos após ter dado o primeiro passo.

 Fica a reflexão.

Micael B Silveira

Engenheiro de Controle e Automação, Empreendedor, Jornalista nas horas vagas e apaixonado por sua terra natal: Condeúba.

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