Puxado pelas ações da Petrobras, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, fechou em queda de 2,45%, a maior retração desde 3 de fevereiro, quando registrou desvalorização de 3,13%. Foram as ações preferenciais da Petrobras (sem direito a voto) que guiaram as perdas do índice. Os papéis, que chegaram a subir mais de 3% após a abertura dos negócios ontem, ainda na esteira da pesquisa Sensus, terminaram o dia em baixa de 4,91%.
Mesmo que tenha servido de pretexto para investidores venderem ações e embolsarem lucros acumulados recentemente com a Petrobras, a tensão no mercado é resultado direto da turbulência política surgida no fim de semana. Na sexta e no sábado, o jornal O Estado de São Paulo e a revista Veja publicaram reportagens baseadas em vazamentos de informações fornecidas pelo ex-diretor da petroleira à Polícia Federal em Curitiba.
De acordo com as duas publicações, para escapar da cadeia, Paulo Roberto resolveu falar mais do que havia dito em depoimentos ao Congresso Nacional, à Justiça Federal e à PF. O acordo de delação premiada integra o inquérito da Operação Lava-Jato, voltada a investigar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas através de doleiros e contas na Suíça.
Enredo
Em troca de uma pena mais branda e da possibilidade de responder em liberdade vigiada por uma tornozeleira eletrônica, o ex-diretor da Petrobras, preso pela segunda vez em junho, sacudiu a eleição, que já estava um tanto revirada desde a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 13 de agosto.
Além do próprio Campos, foram apontados por ele como beneficiários dos desvios – feitos a partir de obras superfaturadas e de contratos inchados na refinaria Abreu e Lima – políticos de três partidos: PMDB, PT e PP, entre deputados federais, senadores, governadores e ministros.
Do PMDB, foram citados a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, respectivamente, além do senador Romero Jucá.
Do PT, foram relacionados o deputado federal Cândido Vaccarezza e o secretário nacional de Finanças do partido, João Vaccari Neto. Já na lista do PP, estão o senador Ciro Nogueira, o deputado João Pizzolati e o ex-ministro das Cidades Mario Negromonte, atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM). A turma, segundo o delator, recebia 3% dos contratos superfaturados. A soma, ainda segundo a Veja, era paga aos partidos e políticos por meio do esquema controlado pelo doleiro Alberto Youssef. Em nota à imprensa, todos os envolvidos negaram participação no esquema.
Como era de se esperar, o caso ocupou o centro do noticiário eleitoral. Depois de chamar no fim de semana as novas denúncias de “mensalão 2”, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou a base de sustentação do governo de ser “alimentada por recursos da corrupção”. A declaração foi feita em Marabá, no Pará. Hoje, o assunto ocupará parte do programa do tucano na TV.
Em visita a São Paulo, a candidata do PSB, Marina Silva, engrossou parte do coro do tucano. Afirmou ontem que o atual governo do PT é responsável por manter uma “quadrilha” no comando da Petrobras. Ela, porém, evitou culpar diretamente a presidente Dilma Rousseff pelo esquema denunciado por Paulo Roberto e voltou a defender Campos.
Ao contrário de Aécio, que tem afirmado que seria “impossível” Dilma não saber do caso denunciado pelo ex-diretor da estatal, a candidata do PSB evitou responsabilizar diretamente a petista, que concorre à reeleição. “A presidente tem responsabilidade política. Eu não seria leviana em dizer que ela tem responsabilidade direta”, afirmou.
Apertada durante a sabatina do Estadão, Dilma disse que não teve “qualquer desconfiança” em relação aos “malfeitos”. “Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve… Se houve uma sangria, está estancada”, disse.
Quando perguntada sobre os negócios suspeitos de Paulo Roberto Costa, a presidente garantiu que foi pega de surpresa: “Veja bem. Em nenhum momento houve (desconfiança). É importante que a gente lembre que esse diretor era funcionário de carreira da Petrobras”.
Ao mesmo tempo, o presidente da CPI mista da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e a direção da estatal pediram ao Supremo acesso aos vídeos com depoimentos dados pelo delator à PF do Paraná e ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz o inquérito. A intenção é saber quem foi apontado e o tamanho das denúncias. A PF também informou, em nota, que abriu investigação para apurar “suposto vazamento à imprensa de informações protegidas por segredo de Justiça”. Pelo visto, a tensão vai subir mais ainda, no mercado e na corrida eleitoral.