Do Estadão
As investigações da Operação Lava Jato na movimentação financeira da Credencial Construtora Empreendimentos e Representações – principal foco da 30ª fase batizada de Operação Vício – abrem novas frentes de apurações sobre a corrupção sistêmica no governo federal. Empresas que fizeram depósitos na conta da investigada revelarão novos tentáculos do esquema, descoberto na Petrobrás, em outros setores, como as concessões de rodovias.
Uma das empresas que aparece na quebra de sigilo da Credencial é a ViaBahia Concessionária de Rodovias S.A.. Ela repassou em 2013 um total de R$ 6,2 milhões para a empresa alvo da Operação Vício. Segundo os investigadores, a firma aberta em 2004 com sede em Sumaré (SP) é “uma lavanderia de dinheiro”.
A ViaBahia foi formada pela espanhola Isolux Corsán Concesiones e pelas brasileiras Engevix – do cartel denunciado na Lava Jato – e da Encalso. A empresa venceu, em 2009, um dos pacotes do leilão de concessão do governo Luiz Inácio Lula da Silva para administrar por 25 anos 680 quilômetros de rodovias, entre elas trecho da BR-116 (rodovia Santos Dumont) entre Feira de Santana até a divisa com o Minas Gerais, e a BR-324 (rodovia Engenheiro Vasco Filho) entre Salvador e Feira de Santana. A Isolux deixou a sociedade neste ano.
Na quebra de sigilo aparece também R$ 2,9 milhões repassados, entre 2010 e 2011, para a Credencial por uma empresa de nome Isolux Projetos e Instalações – ligada à Isolux espanhola.
A área de concessões de rodovias foi apontada pelo primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada, em agosto de 2014, como alvo de acertos. Segundo ele, obras em ferrovias e aeroportos também estavam condicionadas às composições com políticos da base do governo, em especial o PT, PMDB e PP.
Lavanderia. Os donos da Credencial foram os únicos presos da Operação Vício, deflagrada nesta terça-feira, 24. Eduardo Aparecido de Meira e Flavio Henrique de Oliveira Macedo estão em Curitiba.
“Ela (Credencial) recebe mais de R$ 30 milhões. A maior parte da quantia era, na sequência revertido em transferências para contas dos donos e os valores sacados”, afirma o procurador da República Roberson Pozzobon, da equipe da Lava Jato.
A força-tarefa não tem dúvidas de que a Credencial era uma empresa especializada em fornecer notas para ocultar propinas e ilícitos.