MOBILIZAÇÃO
O padre brumadense Homero Leite Meira, que chegou a Condeúba após a cheia do rio Gavião devastar a cidade em 1968 e intercedeu junto ao papa João XXIII para ajudar na reconstrução das moradias, ficou agitado com a premiação.
Meira confidenciou a Anfilófilo que não gostaria de colocar a imagem na igreja matriz de Santo Antônio nem em uma capela, pois acreditava que desta forma a entrega não teria muita repercussão.
Resolveu, então, tomar duas providências: pedir um terreno ao prefeito da época, Antônio Terêncio, e chamar seu Filó para construir a gruta.
Com o político, obteve uma área pouco acima do terreno onde no passado existia um cemitério. O filho de Filó, Antônio Alves de Souza, conta que quando chovia, as águas revolviam a antiga necrópole, deixando à mostra cadáveres e caixões, o que atiçava a curiosidade dos alunos de um colégio nas proximidades. Futuramente, o local seria pavimentado.
Faltando 60 dias para a chegada da comitiva, o futuro bispo de Itabuna e de Irecê, convidou Anfilófilo para ir até Vitória da Conquista, sem dizer o motivo da viagem. Lá visita o pátio do Colégio Sacramentinas para mostrar a gruta que lá existia.
“Quando eu cheguei, olhei e falei assim: ‘Essa gruta sua é muito pequena’. Aí, o padre falou para irmos embora e mandou eu fazer uma planta do jeito que eu achasse melhor. Disse ainda que eu pedisse ajuda para concluir a obra no prazo” – recorda o mestre de obras.
Padre Homero garantiu o pagamento dos seis pedreiros e ajudantes que trabalharam na construção. As pedras foram doadas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). O cimento foi obtido através de doações. Por determinação de Filó, a cinta de cobertura foi feita com uma tela de ferro e as paredes têm um metro de espessura.
Na data acertada para a entrega da imagem, em 13 de junho de 1972, a comitiva do padre Vítor, que incluía religiosos, músicos e dois bispos (Dom Climério Almeida de Andrade, de Vitória da Conquista; e Dom Frei Silvério Jarbas Paulo de Albuquerque, de Caetité) encontrou a gruta pronta. O grupo foi recepcionado por cerca de 10 mil pessoas, vindas Bom Jesus da Lapa, Feira de Santana, Caculé (BA) e Santo Antônio do Paraíso (MG). Naquela data também se comemorava o dia de Santo Antônio, padroeiro da cidade.
Com a gruta enfeitada de bandeirolas, o religioso de Aparecida entregou a imagem para o padre Homero, que a recebeu de joelhos, conforme mostra a foto afixada em uma das paredes da lapa construída com a orientação de Anfilófilo.
“Foi muito discurso. Teve música e celebração na Igreja Matriz. Foi uma festa muito bonita” – recorda.
Padre Vítor ainda passou três dias em Condeúba, cuja população de católicos chega a 86,8%. Ele ajudou Homero nas celebrações, nos sermões e anotou o nome de outros interessados em se tornar sócios da rádio Aparecida. Antes de partir, o redentorista sugeriu ao pároco local que a Irmandade do Santíssimo Sacramento ficasse responsável pela arrecadação mensal do dinheiro que os fiéis enviariam para a emissora. Seu Filó foi encarregado de fazer o recebimento e entregar os recibos para moradores da cidade. Cumpriu a missão durante 36 anos.
Em 2008, o então padre de Condeúba, Osvaldino, sugeriu que Anfilófilo consultasse o povo para saber se as doações não poderiam ser revertidas para a igreja local.
“Ele falou que precisava do dinheiro para fazer outros trabalhos. Respondi que muita gente não deixaria de mandar as contribuições para Aparecida, o que de fato ocorreu. Atualmente, os sócios mandam por conta própria pelo banco. E desde aquela época, deixei de arrecadar e entregar os recibos”, conta Filó, devoto de Nossa Senhora por influência da família.
A COROA
Com o passar do tempo, a festa de Nossa Senhora de Aparecida, que se inicia com o novenário no dia 3 de outubro, ganhou mais prestígio que as demais comemorações religiosas de Condeúba, incluindo a do padroeiro. Em 1992, seu Filó decidiu incrementar. Construiu uma coroa de zinco no quintal de sua casa e a fincou no telhado, dando mais imponência à gruta.
Não era sua primeira inovação. Na época da construção, construíra um aquário na parede, próximo ao local onde estava a santa. Instalara uma caixa d’água e pedira aos pescadores da região peixinhos coloridos. Eles circulavam entre a caixa e a tubulação que levava ao aquário.
“Padre Vítor gostou muito” – diz.
Os dias passaram, o vidro rachou, a água derramou e nunca mais encheram o reservatório de peixes ornamentais. Esse não seria o único infortúnio.
Antônio de Souza, filho do mestre de obra, conta que por volta de 1980, ladrões roubaram o cofre de esmolas. Retiraram o dinheiro e jogaram a pequena caixa-forte em uma lagoa, onde foi encontrada por um pescador. Também furtaram a coroa da imagem da réplica trazida de Aparecida do Norte (SP), pensando se tratar de uma peça de ouro.
A igreja resolveu guardar a estátua de madeira de Nossa Senhora da Aparecida na Matriz e colocar outra na gruta. Outra providência foi a colocação de grades de ferro nas laterais da furna. Em torno dela, já havia a murada instalada pelo então prefeito Dario Lima.
Padre Vítor Coelho de Almeida morreu no dia 21 de julho de 1987, aos 87 anos. Desde 2012, ele é homenageado pelo Santuário Nacional de Aparecida com uma romaria que leva o seu nome. Seu processo de beatificação está em análise no Vaticano.
Padre Homero Leite Meira se tornou o primeiro bispo de Itabuna. Posteriormente, foi nomeado bispo de Irecê (1980), onde renunciou três anos depois por problemas de saúde. Organizou o movimento de Renovação Carismática Católica, em Caetité, onde morreu em maio de 2014, aos 84 anos.
A festa de Nossa Senhora da Aparecida está em sua 46ª edição. Na próxima sexta-feira (dia 12 de outubro), são esperados cerca de dois mil fiéis. Seu Filó garante que estará entre eles.